Datasets:
audio
audioduration (s) 0.02
11.6
| transcription
stringlengths 3
127
|
---|---|
Quando eu fui para Brasília em sessenta e nove |
|
foi |
|
Aí eu o caba não sabendo se tinha recebido, aí eles mandavam uma de volta. |
|
Aí quando ia chegar, a primeira que tinha vindo, já tinha passado um mês, a outra um mês e tanto. |
|
Aí era uma dificuldade medonha. |
|
Aí era assim, fazia, botava no correio, esperava a resposta de outra carta, vindo de lá para cá. |
|
Aí eles recebiam aqui, veia como era que a pessoa estava, fazia aquele... |
|
Aí fazia uma carta e mandava para trás. |
|
Mas demorava demais, ave? |
|
Não, caro não era. |
|
Pedaço de papel, para fazer uma carta, não é caro. |
|
envelope também nunca foi caro. |
|
eu passei o ano de setenta lá |
|
Não, isso aí, botava no correio e a minchariazinha pagava. |
|
Agora o que eu achava mais ruim naquele lugar, que eu fiz muita aventura, foi ganhar pouco. |
|
Eu não sei, aquele devia ser o que? O salário que a gente ganhava. |
|
Não sei quanto era o salário, ninguém falava em salário naquele tempo. |
|
Falava em pagamento era. |
|
Mas era pouco, o pagamento era pouco. |
|
Eu lembro que uma passagem para São Paulo era sessenta e poucos reais. |
|
Eu não sei que dinheiro era aquele também não |
|
O cruzado veio já muito na frente, antes do real. |
|
Aí ganhava pouco, mas eu me aguentava. |
|
setenta, setenta e um, vim embora já no começo de setenta e dois |
|
Era o sacrifício para segurar o gadinho que tinha. |
|
Papai ia buscar a caiga de capim seco. |
|
Buscar a caiga de capim seco. |
|
Mas na Serra do Montserrat, não sei onde, para comer. |
|
Eu não era assim, não comia. |
|
Na hora que chegar, eles caíam em cima comendo |
|
Eles índia era caro. |
|
Era difícil, mas sim. |
|
Mas não dava certo para rendar, não. |
|
Não tinha dinheiro, não, para comprar não |
|
Aí eu mandei, durante esse tempo lá, eu mandei, eu era muito ruim para escrever, ainda hoje sou... |
|
Em cinquenta e oito, olhe setenta, e setenta eu tava em Brasília, não sei. |
|
Em 1958 eu estava em casa. |
|
Nós, Eu era de menor. |
|
Em cinquenta e oito eu tinha, quarenta e nove para cinquenta e oito |
|
Aí eu vinha vender lenha para Lussoia, tangendo os burros, de pés. |
|
Aí vendia a lenha. |
|
Eu lembro que eu quase não alcançava em cima do burro. |
|
Vinha sozinho. |
|
Dois, três, quatro. |
|
Andava com a caiga, vinha a pés. |
|
Eu estudei pouco, aí minha letra é horrível, mas eu sabia que escrevia uma carta, a letra ficava meio feia, mas dava. |
|
tudo manso, quase todos os dias. |
|
Dia sim, dia não. |
|
No que a gente chegava lá, tinha que tirar lenha de novo. |
|
Saía de casa de madrugada. |
|
Era longe e burro anda devagar. |
|
quatorze quilômetros. |
|
Ei, a gente saía de casa de madrugada. |
|
Antes do sol sair muito, escuro ainda. |
|
As vezes Miguel, um primo meu, morava mais embaixo, vinha também. |
|
Aí eu vinha com três, ele vinha com duas. |
|
Aí eu fazia, eu devo ter feito umas quatro durante esse tempo todo. |
|
Aí eu vinha chegar lá, ele já estava com as caigas dele prontas também. |
|
Eu só era tocar na estrada ir embora. |
|
Não tinha fogão à gás não para cozinhar. |
|
Os homens tavam todos lá nas estadas, trabalhando. |
|
Serviço de emergência. |
|
Aí só tinha quase mulheres na cidade. |
|
Não tinha homem não. |
|
tudo trabalhando no meio do mundo e as mulheres sozinhas em casa. |
|
Tinha delas que comprava lenha e ajudava a gente a tirar. |
|
Daí eles iam trabalhar para ganhar alguma coisa para sobreviver. |
|
Aí botava no correio, aí bichinho demorava, demorava, demorava, ninguém sabia notícia de ninguém não. |
|
E elas ficavam em casa cuidando da casa. |
|
Ele não era perto, eles vinha. |
|
Ele não tinha recebido dinheiro não. |
|
Recebia, como era? |
|
Recebia mantimento, que dizia, né? |
|
Arroz, feijão. |
|
Era, não tinha dinheiro não. |
|
Aí, parece que aqui acolá tinha uns pagamentinhos em dinheiro, vish |
|
Povo ficava animado quando tinha um dinheirinho ali. |
|
Povo ficava morto e alegre. |
|
Sabia, nem se tava vivo por aí. |
|
Difficuldade maior do mundo. |
|
Eu vendia a lenha de vinte reais a carga. |
|
Eu lembro de não sei o que lá. |
|
Não sei o que era que tinha lá. |
|
Eu sei que era vinte e a três cargas era sessenta reais |
|
sessenta não sei o que. |
|
Aí eu ia comprar. |
|
Aí a mamãe mandava eu comprar. |
|
Café, açúcar. |
|
Às vezes eu comprava café, açúcar, rapadura, farinha. |
|
Sabia não. As vezes saber se a carta tinha chegado, quando eles mandavam outra de volta. |
|
Não, farinha papai comprava de...de... |
|
Nas serras, comprava de |
|
Café, açúcar e rapadura |
|
Gostava de comprar. |
|
Mamãe dizia, compre da mais barata que tiver. |
|
Aí comprava a rapadura da mais barato. |
|
A bicha era preta que nem o cão. |
|
comer. |
|
Comia mesmo rapadura. |
|
Ela é igual ao seu sombota cor. |
End of preview. Expand
in Dataset Viewer.
- Downloads last month
- 91